sábado, 28 de janeiro de 2023

Memórias



... das saudades que trago no coração – memórias










As brincadeiras de roda, subir em arvores, correr, cair, chorar, sorrir... Construir nossos brinquedos com latas, tecidos..., bonecas eram de milho ou de pano. Corríamos, pulávamos, brincávamos de pega – pega... tudo era festa na simplicidade e em cada detalhe daquilo que habitaram nossos corações de criança. A criatividade e a imaginação fluíam livres.

 Lembranças memoráveis.

 Quando chegava a noite, lá longe se escutava ecoar o canto triste e melancólico da Mãe da Lua (Urutau). Um canto solitário e introspectivo...

As noites eram iluminadas à luz do candeeiro ou lamparinas, a luz da lua e das estrelas que são testemunhas de muitas rezas, benditos, cânticos de Nossa Senhora, ladainhas, oração do terço. Nalguns intervalos, se ouvia som de grilos seguido pelo o eco das vozes das mulheres reunidas em oração (minha mãe, madrinha Ana, tia Geralda, tia Tiana...). Do lado de fora da casa, às risadas dos homens que ficavam reunidos contando causos, piadas e rindo muito. Só entravam no espaço orante na hora de se ajoelhar para cantar o bendito do Senhor Deus e pedir a benção dos santos no altar.  

 “Senhor Deus, pequei, Senhor,
Mas, pelas dores de vossa Mãe, Maria Santíssima, compadecei-vos de nós.”

Muitas vezes, no entardecer, havia as ajudas comunitárias dos vizinhos para a debulha do milho ou do feijão e prosear.

    Na hora do recolhimento para dormir e ao acordar pela manhã, era regra pedir a benção o pai, a mãe, avós, padrinhos, tios... 

Benção pai, benção mãe..., aguardando sempre a resposta “Deus te abençoe”.

A sinfonia dos pássaros no amanhecer na roça, o chão seco poeirento e ás vezes rachado, a vegetação rala e a cor marrom da seca.

Guardo ainda na memória a imagem do meu pai na janela da nossa casa, olhando para o céu vibrante de alegria aos sinais de que a chuva estava se aproximando.  Muita esperança e expectativa na espera da chuva. “Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais”. 

Os sinais do céu, vejo de minha janela

Nela fixo meu olhar para o céu

Celebrando os sinais da chuva que vem chegando.

Minha mãe jogando milho para as galinhas e o leite fervendo no fogão a lenha e depois servido com cuscuz.

Os reisados em janeiro, momentos de festa, devoção e muita animação dos foliões.

As rodas de São Gonçalo, pagamento de promessas, com seu ritual de musicas, danças, devoção, benditos, estouros de foguetes e envolvimento das comunidades que vinham prestigiar o momento com o pagador de promessa e o santo.

Contemplar o pôr do sol à beira do Rio São Francisco sob um céu azul laranja no horizonte. As noites luminosas de estrelas no céu e a luminosidade da lua.

 O luar então todos hão de concordar: “Não há, oh gente, oh não! Luar como este do sertão” a lua clareando as rodas de conversas, as piadas, as risadas, as histórias, as saudades, as brincadeiras de roda das crianças, os caminhos das idas e voltas, o verde dos cactos, os tons marrons da seca e os nossos corações nas noites do sertão.

 

O marrom da seca e a luz intensa do sol, contrastam com o verde desbotado de uma e outra árvore e  o céu azul límpido completa a moldura da paisagem. Para uns desencantos e para outros um encanto sem fim.   


 



quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

CRUZ

 LUZ NA CRUZ











Quem consegue na cruz enxerga a luz?
Transcender as dores do corpo,
Para além da dimensão física que tonifica o espírito?
Entrar nas profundezas do “eu”, sem medo de morrer?

 E, enxergar a luz da verdade?
Depois da escuridão, nasce o sol de o novo dia.
A vida é imprevisível
Um constante morrer e renascer
Que envolve toda a nossa existência
É algo esplendente toma o coração e a mente

Cruz fiel, silencio do céu
Naquela noite escura, se revestiu de luz nos ombros de Jesus
Sacrifício profundo, força redentora para além dos sofrimentos físicos.
Silenciou muitos corações insensíveis
A cruz nos ensina a grande verdade
O amor de Deus pela humanidade
 Contentamento inesquecível e bem compreensível,

Fixei o olhar na cruz e meditei o amor de Deus
Existe algo fascinante entre Deus e o homem
É inexplicável, amor transbordante de ternura e loucura.

Um silêncio pleno de contemplação que culmina numa oração
A vida pulsa de esperança, renovação e afeição no amanhecer da ressurreição.
Sim, houve a sexta-feira da paixão
Mas Deus não é solidão
Ele é relação e comunhão Trinitária

 










 

Alegria e dor estão intimamente ligados
O dançar e o chorar são partes do mesmo movimento:
De ser e fazer diferentes
Entre o viver, morrer, acordar e ressuscitar
Tudo sobe ao céu
É lá o nosso destino final

Somos seres infinitos e integrantes do universo
A vida é movimento, estado de impermanência 
Dores e alegrias faz parte da nossa fragilidade existencial
É caminho de integração à nossa humana condição

Não importa o que ficou para trás
Seguir em frente é essencial
O mundo não pára

Encontrar na cruz a luz
Equilíbrio de mente e coração
A cruz é silêncio, esvaziamento e solidão.
Para escutar a voz de Deus no deserto do nosso chão

Para Deus manifestar não há tempo e nem lugar
Ele estará sempre a nos guiar
 E do tumulo a pedra arrancar e a vida ressuscitar
Nada foge do seu bondoso olhar no ir e vir do nosso caminhar




quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Em Busca de Deus


Em Busca de Deus




O que existe  para além desta vida?
Mistério escondido?
Qual luz inacessível nos espaços infinitos
Além das alturas, lá a onde o sol brilha.
Habitado em luz, beleza e solidão. 

Sua presença,    
Acalenta o sentido da nossa existência.
Quem consegue  penetrar e desvendar,
O mistério que circunda a vida e a morte?

 Silenciei,
Meditei e olhei para o horizonte distante
 Por alguns instantes reclinei para dentro de mim
E, memorei de onde eu vim.
Transpus a barreira da razão,
Para olhar a vida com os olhos do coração
Compenetrada em oração, flexibilidade e a sensibilidade do espírito.

 Sendo assim,
Existe uma forte atração
 Que transcende a consciência da mente,
E, sustenta a fé que em nós existe,
Intrinsecamente eterna e infinita
Numa só sinergia o céu e a terra ressoam em harmonia
Fé, força movedora da vida.
Cuja dimensão não podemos medir
Vai além daquilo que posso ver e sentir

Deus precede a nossa existência
Mesmo que vivemos muitas vezes na inconsciência
A vida tem raízes nas profundezas do coração de Deus
“Eu sou a videira, vocês são os ramos.”(Jo 15, 5)
Ele é a nossa origem e a essência do nosso ser   
 Pois nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17, 28)

A fé não é estática
  É conexão e movimento do corpo e da alma
  Dimensão una que unifica a vida e o corpo
Embora a vida seja a nossa pergunta de cada dia
Que ás vezes nos inquieta e nos sacia
Feito caminho de duas vias
De inquietação e nostalgia,
Na busca do encontro com Deus.
Mesmo diante da contradição dos sentimentos e da razão,
Contudo, não há razão para não ser alma e coração.
Quando O encontramos,
Ao seu amor inteiramente nos entregamos 

A vida é luz
Que com o tempo, como um sopro de vento se apaga.  
 É assim nossa existência
Certos de que um dia nos encontraremos,
Revestidos de luminosidade
Na eterna morada
Porque só o amor dá a vida

O amor ultrapassa qualquer razão
Vai além da  paixão
O amor é cálice oferecido
Cujas mãos estendidas,
Cabe o infinito
 Porque Deus assim permite

A  paixão de Cristo,
Caminho de suplicio derradeiro
No mistério da cruz,
Bem no centro da criação
Feito semente e grão
Que do céu desceu
Com a divina missão
De nos revelar a verdadeira face do amor.
“Amem-se uns aos outros” (Jo 13, 34)



























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