domingo, 23 de setembro de 2012

A Religião sob Ponto de Vista da Sociologia


A Religião sob Ponto de Vista da Sociologia 



Durkheim comenta: Diz que a ciência, em principio, nega a religião. Mas a religião existe. Constitui-se num sistema de fatos dados. Em suma: ela é uma realidade. Como poderia a ciência negar tal realidade?
“Não existe religião alguma que seja falsa”. A religião é uma instituição, e nenhuma instituição pode ser edificada sobre o erro ou uma mentira. “Se ela não estivesse alicerçada na própria natureza das coisas, teria encontrado, nos fatos, uma resistência sobre o qual não poderia ter triunfado.”
Que ocorre quando a secularização avança, o utilitarismo se impõe e o sagrado se dissolve? Roubados daquele centro sagrado que exigia a reverencia dos indivíduos para com as normas da vida social, as pessoas perdem seus pontos de referencia. Sobrevém a anomia.
E a sociedade se estilhaça sob a crescente pressão das forças centrifugas do individualismo. Se é possível quebrar as normas, tirar proveito e escapar ileso, que argumento utilitário pose ser invocado para evitar o crime?
O sagrado é o centro do mundo, a origem da ordem à fonte das normas, a garantia da harmonia. Assim, quando Durkheim explorava a religião, ele estava investigando as próprias condições para a sobrevivência da vida social. E é isso o que afirma sua mais revolucionaria conclusão acerca da essência da religião.
Segundo Rubem Alves a essência da religião não é a idéia, mas a força. “O fiel que encontrou em comunhão com seu Deus não é meramente um homem que vê novas verdades que o descrente ignora. Ele se tornou mais forte. Ele sente, dentro de si, mais força, seja para suportar os sofrimentos da existência, seja para vencê-los”. O sagrado não é um circulo de saber, mas um circulo de poder.
Durkheim percebe que a consciência do sagrado só aparece em virtude da capacidade humana para imaginar, para pensar um mundo ideal: coisa que não vemos nos animais, que permanecem sempre mergulhados nos fatos.
Os homens, ao contrario, contemplam os fatos e os revestem com uma aura sagrada que em nenhum lugar se apresenta como dado bruto, surgindo apenas de sua capacidade para conceber o ideal e de acrescentar algo real. Na verdade, o ideal e o sagrado são as mesmas coisa.
E chegou mesmo a afirmar que “existe algo de eterno na religião que está destinado a sobreviver a todos os símbolos particulares nos quais o pensamento religioso sucessivamente se envolveu. Não pode existir uma sociedade que não sinta a necessidade de manter e reafirmar, a intervalos, os sentimentos coletivos e idéias coletivas que constituem sua unidade e personalidade”.
A religião pode se transformar. Mas nunca desaparecerá.
Marx vê na religião a expressão maior da alienação, porque a religião fala do outro mundo e do céu como a situação reconciliada, da pura felicidade, sem conflitos e contradições. Para Marx importa descobrir este mundo, conflititivo, miserável e não celestial. Enquanto a religião ocupa a mente do proletariado com o discurso do outro mundo, o impede de descobrir este mundo e de lutar para transformá-lo e ai sim, poder falar-se eventualmente num céu. A religião apresenta uma teoria fantástica do mundo; importa construir a teoria real do mundo real. Daí o combate de Marx a religião. Marx procurou compreender a função concreta da religião: ela é, em primeiro lugar, expressão da miséria (“suspiro da criatura em agonia”). Em segundo lugar, a religião é também um protesto contra a miséria. 
Para Marx a critica da religião ajuda a desenvolver no proletário a consciência critica e faze-lo descobrir a realidade conflitiva sem ilusão e sem inversão de espiritualista, apresentados pela religião. Em lugar de interpretação religiosa da miséria deve ir a interpretação critica e cientifica. Este é o propósito de Marx.
Marx não se opõe, sem mais a religião, opões-se ao efeito social alienador que a religião pode propagar.
Diz que se deve salvaguardar a liberdade de consciência de cada um, mas ao mesmo tempo, lutar para que a religião não distorça a compreensão da miséria e não projete para o outro mundo a solução de problemas cuja solução deve ser encontrado aqui mediante a consciência critica a organização do proletariado e a luta revolucionaria (Revista de cultura vozes nº. 6, 1987, p. 694).

Segundo Freud, a religião nasce fundamentalmente de uma recusa, por parte da consciência, em aceitar a “realidade”. È um ato de rebelião pelo qual o principio do prazer nega a realidade instaurada o status de realidade, substituindo-a por um mundo imaginário que realmente represente os impulsos eróticos reprimidos pela civilização, mundo este que passa a funcionar, para a consciência, como realidade. Tal atitude da consciência – Freud denominou neurose – e as construções que dela emergem, são, segundo o pai da psicanálise, fundamentalmente disfuncionais frente à sociedade. Por isto, elas devem ser reprimidas ou pela força ou voluntariamente.
Feuerbach afirma: “A religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação dos seus pensamentos mais íntimos, a confissão publica dos seus segredos de amor”.
E ele continua: “Como forem os pensamentos e as disposições do homem, exatamente isso e não mais será o valor do seu Deus. Consciência de Deus é autoconsciência, conhecimento de Deus é autoconhecimento”.
Assim, se a psicanálise dizia “conta-me teus sonhos e decifrarei o teu segredo”, Feuerbach acrescenta “conta-me acerca do teu Deus e eu te direi quem és”. Deus é a mais alta subjetividade do homem... Este é o mistério da religião: O homem projeta seu ser na objetividade e então se transforma  a si mesmo num objeto perante essa imagem, assim convertida em sujeito”.
É o homem quem fala, das profundezas do seu ser, numa linguagem que nem ele mesmo entende. A despeito disso, fala sempre a verdade, porque diz dos seus segredos de amor e anunciar o mundo que poderia fazê-lo feliz.
A religião é um sonho. Mas sonhos não nos encontramos nem vazio como pensava o empirismo, nem nos céus, como afirmavam os teólogos, “mas na terra, no reino da realidade. O que ocorre é que nos sonhos vemos as coisas reais no esplendor mágico da imaginação e do capricho, em vez da simples luz diurna da realidade e da necessidade”. 
O mundo sagrado não é uma realidade do lado de lá, mas a transformação daquilo que existe do lado da cá.
Leonardo Boff argumenta que a religiosidade pode ter valor de ação social e política potencializando ainda mais a força da mobilização libertária. É na religião que se articulam os grandes temas que movem à consciência e as buscas humanas radicais. A religião expressa uma experiência irredutível que transcende o homem.
A religião ensina aquilo que mais falta ao projeto da tecno-ciência que opera o desenvolvimento-crescimento de nossas sociedades: o respeito pela alteridade, o reconhecimento de que as coisas valem por si mesmas e não apenas porque nos são úteis, pois elas representam uma revelação do Criador e têm direito de continuar a existir, pois não fomos nós que lhe demos existência. Alimentar a solidariedade generacional.
Weber concentrou a sua atenção nas religiões ditas mundiais, aquelas que atraíram um grande número de crentes e que afetaram, em grande medida, o curso global da história. Teve em atenção à relação entre a religião e as mudanças sociais, acreditava que os movimentos inspirados na religião podiam produzir grandes transformações sociais, dando o exemplo do Protestantismo.




Para Weber, as concepções religiosas eram cruciais e originárias das sociedades humanas, pois o homem, como tal, sempre esteve à procura de sentido e de significado para a sua existência; não simplesmente de ajustamento emocional, mas de segurança cognitiva ao enfrentar problemas de sofrimento e morte (Ó Dea, 1969). Procura-se na religião signos de transcendência e de esperança. Assim, Weber estava preocupado em destacar a integração racional dos sistemas religiosos mundiais e não apenas o calvinista (objeto especial dos seus estudos), como resposta aos problemas básicos da condição humana: “contingência, impotência e escassez”. Weber mostra que as religiões, ao criar respostas a tais problemas – respostas que se tornam parte da cultura estabelecida e das estruturas institucionais de uma sociedade –, influem de maneira mais íntima nas atitudes práticas dos homens com relação às várias atividades da vida diária (Ó Dea, 1969). Com isto, Weber considerava que, ao problema humano do sentido e significação existencial, a religião, de maneira eficaz, oferecia uma resposta final. Por conseguinte, como já afirmamos, ela torna-se, pela forma institucional que assume um fator causal na determinação da ação. No caso específico do protestantismo, a sua força é vista como indispensável (mas não a única) para o surgimento do fenômeno da modernidade ocidental, com seus valores inerentes de individualismo, liberdade, democracia, progresso, entre outros. Portanto, segundo a teoria de Weber, religião é uma das fontes causadoras de mudanças sociais. Para ele, o processo de racionalização religiosa ou de “desencantamento do mundo” culminou no calvinismo do século XVII e em muitos outros movimentos, chamados por ele de “seitas”. Desse momento em diante, procurou-se assegurar a salvação (temporal e eterna) não por meio de ritos, ou por uma fuga mística do mundo ou por uma ascética transcendente, mas acreditando-se no mundo pelo trabalho, pela profissão, pela inserção (Fonte http://www.educomvida.com.br). Analistas como S. Huntington, cientistas como E. Wilson e pensadores como Hans Küng têm enfatizado ultimamente a importância política das religiões como formadoras da cosmovisão mais generalizada entre os povos, como fundamento da ética das culturas e como uma das forças maiores que mobilizam as pessoas até o ponto de entregarem suas vidas por suas convicções. As religiões conhecem hoje no mundo inteiro um grande rejuvenescimento. O cansaço da racionalidade e da funcionalidade do mundo moderno abriu espaço para a volta do místico, do religioso e do esotérico. Estes se movem nos parâmetros da razão sensível e simbólica e menos na racionalidade analítica. Dado o processo avassalador da globalização que tende a nivelar as diferenças culturais, as religiões se transformaram em lugares privilegiados de resistência. Quanto mais às culturas se sentem ameaçadas mais encontram na religião uma força de preservação dos símbolos e valores que lhes dão identidade. Essa pressão faz com que surja o fundamentalismo que não é uma doutrina, mas uma forma de interpretar a doutrina, como a única verdadeira, negando às outras verdades e por isso legitimidade. Esse fundamentalismo pode se transformar em terrorismo quando se passa a atacar e a eliminar os opositores. A motivação é política e sua sustentação ideológica é a religiosa[1]






[1] Rubem Alves – O que é religião? http://www.educomvida.com.br/entrevistas/leonardo-boff-a-religiao-deve-conscientizar-e-nao-amedrontar-ao- transformar-danos-ambientais-empecado/


Pesquisar este blog